Aqui você já entra aprendendo, o feminino de sommelier é sommelière, então não estranhe o nome do blog e nem pense que está errado!
Resolvi criar esse blog como uma maneira de dividir informações preciosas com apaixonados pela arte de Bacco. Aqui vocês encontraram alguns textos meus e outros que eu garimpo por ai e julgo itneressantes para dividir com vocês!
Entre. leia, se apaixone e fique a vontade, a casa é sua!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

EU SOU DO SUL!

Dizem que Deus é onipotente e onipresente.... eu discordo. Deus erra, se não errasse não teria feito barata, marimbondo, carrapato e nem teria me feito nascer em São Paulo!


Nasci na Pompéia, zona oeste de São Paulo, me criei na Freguesia do Ó, zona norte, passei minha adolescência no Ibirapuera, zona sul e me perdi na  vida louca novamente na zona oeste, mas precisamente, Pompéia, Perdizes e Vila Madalena,  por tantas loucuras que fiz por pouco não nasci e morri no mesmo bairro.  Minha vida adulta se dividiu entre a região da Paulista e o Jaguaré.
Apesar de conhecer São Paulo como a palma de minha mão nunca me senti em casa. Sempre me senti um pássaro na gaiola, sempre sufoquei na cidade,apensa a noite e a madrugada me atraiam, o lado obscuro da cidade, de dia a Cidade era para mim o inferno, um inferno que eu era obrigada a viver dia a dia!
Passei  um bom tempo de  minha vida adulta em Paraty, noites insones a beira do cais, vários porres de cachaça de banana e abacaxi, noites inteiras a beira mar escutando as ondas, meio de mato em busca de cachoeiras e chegar a conclusão que pé na terra me enjoava e em no balanço das ondas que eu encontrava meu equilíbrio.....  Mas as pessoas que viviam a beira mar me inquietavam, não me completavam  e eu sempre lembrava de uma viagem aos meus 08, 09 anos de idade que eu havia ido a  Santa Catarina...... foi o mais perto da perfeição que eu havia chegado.... e eu sabia que havia mais, muito mais!
Um dia São Paulo me trouxe um amor, esse amor me trouxe um casamento, essa casamento me trouxe uma lua de mel e a escolha: Onde quer passar a Lua de Mel?, Sem pestanejar eu disse Garibaldi,  “ a terrra da Champanha”. Apreciadora desde muito cedo do verdadeiro champagne, não posso negar que pensei na França...... mas mesmo que houvesse condições nada poderia me fazer mais feliz do que pisar em solo gaúcho!
Chegar ao Rio Grannde do Sul foi como voltar para casa, me reencontrar sem nunca ter me perdido! O ar parecia mais puro, parecia suprir com tanta facilidade a “sede” de meus pulmões!
A volta  a São Paulo trouxe lágrimas, como não deixou de haver todas as outras vezes que retornei a essa cidade inferno,
São Paulo me trouxe também uma loja e essa loja me aproximou anida mais do Rio Grande Sul. Foram varias viagens por conta de estudo, negocios, oportunidades. Cada viagem me enraizava ainda mais.... lembro uma vez ao desembarcar em Caxias do Sul, lágrimas corriam em meu rosto e eu balbuciava: “ Voltei, cheguei em casa!”
Eu vivia o Rio Grande do Sul, estudava a história do estado, me emocionava absurdamente com a “Casa das 7 mulheres” e “ O Tempo e Vento”, acompanhava o clima, observando com tensão e cuidados chuvas, geadas, tempestades.....
A loja me trouxe desgostos, necessidade de recomeçar, e porque não recomeçar em “minha terra”. E assim foi! Em um acesso de coragem e loucura largamos tudo e partimos rumo a uma nova vida no Rio Grande do Sul.
Chegar em solo gaucho, de mala, cuia, filho, marido e gatos foi o inicio de toda alegria que sempre imaginei estar reservada para mim!
A cidade me acolheu como se eu fosse uma filha querida  a muito tempo distante. Cada nascer e por do sol era uma homenagem a minha coragem e presença.... lágrimas de felicidade que eu derramava sobre a terra brotavam flores em minha alma e meu coração... eu estava finalmente em casa!

Hoje, gaúcha de coração acordo ao nascer do sol feliz ao ver a névoa se dissipando aos poucos, espero ansiosamente o frio e aas geadas, aprecio as torrenciais chuvas e o céu lampejando em raios  ofuscantes na tempestade. Aprecio o clima puro, os extremos de frio e calor, o cheiro das flores que invadem o ar todos os dias,  o cheiro de lenha queimando no fogão e na churrasqueira  e o cheiro de uva que invade a cidade na época da safra. Impressiona-me ainda a magia do brotar das plantas depois do inverno, arvores e plantas secas se vestindo aos poucos de verde. O céu estrelado que as vezes tem tantas estrelas que parece que vai cair sobre nós... a pureza da lua em todos os seus quartos, adoro ver a lua cheia refletindo sobre as águas do açude e ouvir o coaxar dos sapos e os sons de todos os bichos noturnos, aprecio tudo isso com uma taça de vinho na mão, vinho da terra, fruto da paixão, do sangue e do suor de gaúchos apaixonados como eu!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

12ª AVALIAÇÃO DOS VINHOS, ESPUMANTES E SUCOS DE GARIBALDI


Essa semana participei de um evento muito interessante, a 12ª Avaliação dos  Melhores Vinhos, Sucos e Espumantes de Garibaldi. Minha primeira participação nesse evento e que me deixou muito contente e satisfeita!
O evento conta com uma recepção para vários convidados a degustação dos produtos mais premiados do  evento , a distribuição de medalhas as vinícolas premiadas, seguidos de um jantar e logicamente a outra degustação dos melhores vinhos, espumantes e sucos de Garibaldi.
Foram 18 vinícolas participantes, sendo que 16 delas foram premiadas. As vinícolas enviaram suas amostras no inicio de julho e as mesmas foram degustadas e classificadas por sommeliers e enólogos entre os dias  14 e 19 de julho.
41 medalhas foram distribuídas, sendo 37 de ouro e 4 de prata.  O evento tem o intuito de incentivar os produtores  a se superarem cada vez mais na qualidade de seus produtos.
Uma coisa que senti falta foi da avaliação de Vinho Tinto Fino seco  na degustação dos mais pontuados, vi isso como uma falha e penso que deveria ser corrigido de forma a incentivar ainda mais a elaboração e melhoria dos vinhos tintos finos.
Segue a lista dos mais pontuados na safra de 2014 e eu recomendo que degustem e se deliciem com cada um dos rótulos abaixo ( OS marcados em negrito foram os mais pontuados durante a degustação):

ADEGA CHESINI
  • ·         OURO – Vinho Branco de Mesa Lorena 2014
  • ·         OURO – Vinho tinto fino Petit Verdot 2014
  • ·         OURO – Vinho tinto fino Gran Vin 2011
  • ·         OURO 0 Vinho tinto fino Merlot
  • ·         OURO – Suco de Uva
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Vinho tinto fino Merlot 2014
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Vinho Branco Fino Moscato


CASA PEDRUCCI
  • ·         OURO – Espumante Casa Pedrucci Brut Reserva Champenoisse
  • ·         MENÇÃO HONROSA -  Espumante Casa Pedrucci Brut Tradicional Champenoisse


CAVE DARCI LOCATELLI
  • ·         OURO – Vinho tnto fino Ancelotta 2014


COOPERATIVA VINÍCOLA GARIBALDI
  • ·         OURO – Vinho Branco Fino Riesling 2014
  • ·         OURO – Vinho Branco Fino Chatet Du Clermont Chardonnay
  • ·         OURO – Vinho Tinto Fino Ancelotta 2014  
  • ·         OURO – Vinho Tinto Fino Granja União Tannat
  • ·         OURO – Espumante Branco Brut Garibaldi Chardonnay
  • ·         OURO – Espumante Garibaldi Brut Rosê ( 88 pontos)
  • ·         OURO  - Espumante Garibaldi Monscatel Rosê
  • ·         OURO – Suco de Uva Garibaldi
  • ·         PRATA – Vinho Branco Fino Moscato 2014
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Vinho Fino Branco Granja União Riesling
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Vinho Tinto Fino Tannar 2014
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Espumante Garibaldi Prosecco
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Suco de Uva Orgânico


DOMNO DO BRASIL
  • PRATA – Espumante Ponto Nero Brut Rosê


ESTABELECIMENTO VINÍCOLA ARMANDO PETERLONGO
  • ·         OURO – Presence Peterlongo Champagne Extra Brut Champenoise
  • ·         OURO – Privillege Peterlongo Espumante Brut Rosê
  • ·         OURO – Casa Peterlongo Suco de Uva Tinto Integral
  • ·         OURO – Vinho Tinto Fino Terras Peterlongo Merlot
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Presence Peterlongo Champagne Brut Champenoise
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Prosecco Peterlongo Espumante Brut Charmat
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Presense Peterlongo Espumante Moscatel Rosê


INDÚSTRIA DE VINHOS MÂNICA
  • ·         PRATA -  Vinho de Mesa Rosê Seco


INDUSTRIA DE VINHOS AGOSTINI
  • ·         OURO – Vinho Tinto de Mesa Seco 2014
  • ·         OURO – Vinho Tinto de Mesa Seco Bordô 2014
  • ·         OURO – Espumante Brut Champenoise
  • ·         OURO – Espumante Demi-sec
  • ·         OURO -  Espumante Branco Moscatel (89 pontos)
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Suco Integral


INDUSTRIA DE VINHOS LA CANTINA
  • ·         OURO – Vinho Branco Fino Tinto Chardonnay (89 pontos)
  • ·         OURO – Espumante Branco Moscatel


INDUSTRIA VINÍCOLA SÃO LUIZ
  • ·         OURO – Vinho Tinto de Mesa Seco Bordô 2014 (88 pontos)
  • ·         OURO – Vinho Rosê de Mesa Bordô 2014
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Espumante Rosê Moscatel Dom Naneto
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Espumante Branco Moscatel Dom Naneto


VINÍCOLA BATTISTELLO
  • ·         OURO – Vinho Tinto Fino Ancelotta/Tannat 2014 
  • ·         OURO – Vinho Tinto fino Ancelotta
  • ·         OURO – Suco de Uva (91 pontos)


VINÍCOLA CARLESSO
  • ·         OURO – Espumante Branco Brut Champenoise


VINÍCOLA COURMAYEUR DO BRASIL
  • ·         OURO – Espumante Branco Prosecco ( 85 pontos)
  • ·         OURO – Espumente Branco Moscatel


VINÍCOLA PERINI
  • ·         OURO – Espumente Perini Nature
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Espumante casa Perini Prosecco
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Espumante Branco Moscatel


VINÍCOLA VACCARO
  • ·         OURO – Vinho Tinto Merlot Vaccaro 2012
  • ·         OURO – Espumante Branco Vaccaro Brut Charmat
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Espumante Branco Vaccaro Moscatel
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Suco de Uva Vaccaro


VINÍCOLA SANTA BÁRBARA
  • ·         OURO – Espumante Branco Moscatel
  • ·         MENÇÃO HONROSA – Suco de Uva Integral















segunda-feira, 18 de agosto de 2014

NÃO ABRA UMA LOJA DE VINHOS!

Seu pai amava vinhos franceses e defendia como ninguém a tese de terroir, você ama vinhos, pensa que deveria ter nascido em meio a um vinhedo, tem familiares ligados de alguma forma a vinicultura, devora livros de enologia, viaja o mundo atrás da cultura enológica, tem um adega vasta e  super bem montada em casa, coleciona todas as publicações que citam vinho, sabe como ninguém discutir safras, assemblages, novos métodos de vinificação, enfim, o vinho é sua vida!
Seus amigos te  encorajam, acham que você deveria fazer dessa paixão profissão, afinal é o mago oficial das dicas de boas compras de garrafas que vão encantar em jantares, festas, encontros e presentes inesquecíveis.
Pois é, esse texto é a pulga atrás da orelha que faltava para você não seguir seus sonhos, não abrir uma loja de vinhos. Pare no sonho! Sonhe com sua loja perfeita, mas a deixe lá, no mundo imaginário.
Isso mesmo, faça-nos um favor e não seja como a maioria dos donos de loja e wine-bar  que acharam que poderiam ter uma loja e faliram em menos de 03 anos, (segundo dados do SEBRAE  27% dos comércios fecham em seu primeiro ano e até o 3º ano  48,2% baixam as portas). Sim porque a maioria dos enófilos é assim, acha que ter paixão é o suficiente para ser um sucesso no mundo dos negócios.
Não se fica rico tendo uma loja de vinhos. Além de não ficar rico sua vida vai virar um inferno! Porque os horários de funcionamento para um comércio, não passam nem perto do horário que você vai ter que estar disponível, são finais de semana, feriados.... afinal as horas que você acha que são de descanso são exatamente os horários que os clientes tem livres para abastecer a adega, afinal eles também trabalham, ou você acha que todo mundo que toma vinho vive de renda? Aqueles eventos maravilhosos que você pretende criar, acha que acabam assim que o último ciente sair da loja? Nada disso, existe trabalho árduo e exaustivo, tanto antes quanto depois do último cliente dar tchau. E enquanto as pessoas já estivem no aconchego de sua casa você estará fechando contas, arrumando a bagunça, lavando taças.....
Tenho inclusive a crença de que Murphy escreveu a famosa lei depois de abrir uma loja de vinhos. Tudo que pode dar errado dá errado! Aquela compra maravilhosa de vinhos que você amou e achou que ia vender horrores vai encalhar, a fatura vai vencer e você não terá dinheiro para pagar. Aquele fornecedor que fez um acordo dos deuses, vai aparecer um dia e mudar de ideia retirando toda a mercadoria e deixando suas prateleiras vazias, aquela festa que você fechou com  o buffet vai ter os cheques devolvidos e você vai ter que entrar no cheque especial para pagar a fatura da compra imensa que você fez de espumantes para abastecer a festa do caloteiro......
E assim o inferno vai começar.....aluguel vence todo mês, e estar bem localizado custa caro! Tem a conta de luz, afinal você tem ambiente climatizado e isso significa  ar condicionado 24 horas ligado, e ainda vem conta de telefone, manutenção de site, contador, água, internet, impostos,  cheque especial, taxas bancárias extorsivas, faturas de fornecedores e o aluguel das benditas máquinas de cartão de crédito. Ops, esqueci! Tem que sobrar algum para suas contas pessoais...... mas nem sempre sobra, ai a gente tem que deixar de pagar alguma conta ou deixar de fazer o supermercado..... é o inicio do fim!
Tem vários tipos de clientes, e principalmente o cliente chato que diz que no supermercado o vinho X ta R$ 1,00 mais barato que na sua loja, e tem o dia que você perde a paciência e manda o cliente Y ir comprar todo o estoque do vinho X no supermercado porque tá de graça. Tem aquele cliente que devolve 90% dos vinhos que compra alegando que estão ruins, mas na realidade ruim está o paladar dele. Tem aquele que te faz embalar vinho barato para presente e reclama que tua embalagem é muito “simplezinha”. Tem aquele que chega arrotando todas as viagens que fez para Europa e exalta como os preços dos vinhos lá são baratos e depois sai de sua loja sem comprar nada porque veio carregado de vinhos da viagem. Tem aquele que entra só para curtir o ar condicionado em um dia de verão escaldante, mas não se contenta e fica mexendo em todas as suas garrafas, inclusive as que estão no estoque em um bate bate sem fim!
Controlar estoque você sabe? Sabe comprar bem? Sabe o que comprar? Aquele vinho que você ama nem sempre é o que seu cliente vai adorar.... e aquele imenso estoque de  Cabernet Franc sensacional, com uma historia linda  e exclusivamente selecionado vai acabar sendo tomado por você, noite após noite, até enjoar, ah, e a fatura vai vencer e você não vendeu nem meia dúzia de garrafas!
Clientes gostam do trivial, de mesmice, de rótulos conhecidos, chatos, sem emoção. Não adianta pensar que você vai estourar em sucesso trazendo rótulos de vinícolas butiques, tesouros achados em suas andanças enologicas, poucos vão dar esse valor.... vão chegar te pedindo todas as santas possíveis e alguns diabos também, e quando você explicar que não trabalha com esses rótulos por ter uma perspectiva diferente eles vão te olhar com desprezo e seguir para o supermercado mais próximo.
Se até essa parte do texto você ainda esta convicto e vai abrir uma loja porque seus amigos acham que você deve, que você é capaz, que vai ser diferente com você, aqui vai mais uma dica, amigos são os piores clientes! Vão ser eles que vão encomendar aquela caixa de vinho rara e cara e depois dizer que  na realidade vão poder ficar com somente uma garrafa. E esses mesmos amigos vão reservar vagas em seus eventos sem pagar com antecedência e depois não vão aparecer e nem pagar pela reserva logicamente, e as vezes o contrário, aparecem naquele evento super concorrido e insistem em ficar nem que seja em um cantinho! E tem os em noção que nuca aparecem na loja, mas se ficam sabendo que tem degustação gratuita vem acompanhado de um monte de outros amigos e pedem bis nas tacinhas, logicamente saem sem comprar nada!
Ouvi dizer que as formas mais eficientes de se perder dinheiro eram: ter vicio em drogas ilícitas ou ter um cavalo no Jockey Club. Acrescento sem pestanejar: abrir uma loja de vinhos!

 *Baseado no texto: "Não Abra um Restaurante" de Rafael Montesso

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

VINHO E DOR DE CABEÇA: Uma dupla que está com os dias contados!



Muitas pessoas que dizem não tomar vinho por que lhes dá dor de cabeça, nao sabem que na realidade a culpa não é do vinho, e sim do conservante usado em sua elaboração: o dióxido de enxofre. Pois essa materia que compartilho com voces ai embaixo, joga uma luz na situação, que pode estar com os dias contados!


"Com o tempo, o dióxido de enxofre (SO2) tornou-se o conservante predileto dos vitivinicultores, uma vez que a pasteurização ficou fora de questão por destruir os componentes do vinho e, consequentemente, alterado sua cor e sabor. No entanto, o SO2 não está livre de controvérsias, e alternativas vem sendo analisadas em projetos da União Europeia (UE). 
Inadequadamente utilizado, o dióxido de enxofre pode causar alergias, dor de cabeça e asma. Por essa razão, a União Europeia exige que o SO2 seja listado no rótulo dos vinhos como ingrediente. Agora, porém, a UE está financiando um novo projeto que pode tornar o uso do dióxido de enxofre desnecessário.
A pasteurização à frio foi originalmente desenvolvida para preservar as características dos sucos de fruta, mas hoje, com apoio do Stuttgart’s Frauenhofer Institute, na Alemanha, está sendo testada no vinho.  O método envolve a dissolução de um gás inerte sobre pressão, que depois a pressão é bruscamente reduzida.
De acordo com a Dra. Ana Lucía Vásquez-Caicedo, os próximos planos são construir uma instalação móvel, que permitirá à técnica ser testada em caves. “Enzimas oxidantes indesejadas são desativadas, enquanto nem os ingredientes sensíveis à temperatura, nem a cor e o sabor serão alterados”, explicou ela."

FONTE: Revista Adega

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Vinho tinto pode ajudar a evitar um AVC

Esta noticia vale a pena compartilhar!
FONTE: Revista Adega

Um médico cardiologista do Reino Unido há 10 anos receita vinho para seus pacientes com doenças cardíacas baseado na sua certeza de que o vinho tinto pode ser uma boa alternativa para evitar ataques cardíacos.  
Dr. William McCrea aconselha seus pacientes a tomar dois copos de vinho tinto por dia e até mesmo a divulgar a prática para seus círculos sociais, um tratamento incomum motivado por uma pesquisa que constatou que os franceses que ingeriram tal quantidade de vinho tinham menos chance de sofrer ataques cardíacos, apesar de terem uma dieta mais calórica e uma alta taxa de tabagismo.
O cardiologista acredita que as propriedades antioxidantes do vinho tinto reduziu pela metade o risco de seus pacientes terem um segundo ataque cardíaco e em 20% as chances dos mesmos terem um acidente vascular cerebral (AVC). Tão confiante em sua crença, McCrea tem prescrito pelos últimos 10 anos 125 ml de vinho tinto para seus pacientes.
Em declarações à revista Bath Chronicle, McCrea disse: “Na França, as pessoas consomem o dobro da quantidade de gordura que nós (britânicos) consumimos, além disso, eles fumam mais e não fazem muito exercício físico. Porém, a quantidade de mortes por ataques cardíacos é metade da nossa”.
Segundo McCrea, se as pessoas consumirem vinho tinto de forma moderada, ou seja, não mais do que dois copos por dia, o resultado será benéfico quanto à redução de doenças cardíacas. “Ele (o vinho tinto) faz três coisas: previne os coágulos que podem desenvolver um AVC no interior das artérias e aumenta o colesterol bom (HDL), responsável por provocar a dilatação das artérias”, explicou.
A prescrição de dois copos de vinho tinto por dia foi dada para 10 mil pacientes que, de acordo com McCrea, para obter os mesmos benefícios teriam de consumir cinco litros de suco de fruta. O cardiologista acredita também que uma pequena dose de vinho tinto pode ajudar a evitar a formação de coágulos sanguíneos, ajudando a manter o revestimento dos vasos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PAPAI AO VINHO


Vinho é sempre o melhor presente, e com a chegada do dia dos pais a pergunta que mais ouço é que vinho  devo dar ao meu pai? Então o objetivo da matéria desse mês e combinar o melhor vinho com o melhor pai do mundo. Então vamos analisar abaixo as melhores combinações:
Pai  conservador: Os vinhos clássicos e encorpados são a cara de desse pai. Aposte nos Bordeaux, Barolos, e Brunellos de Montalcino . Se for optar por vinhos varietais aposte sem medo de errar na casta Cabernet Sauvignon. Esse pai vai curtir vinícolas de grande tradição e renome.  SUGESTÕES: Montes Alpha M (Chile); Catena Estiba Reservada (Argentina); Château Villemaurine Saint Emilion Grand Cru , Bordeaux Chateau Reynon, Bordeaux Clos Floridene (França); Brunello de Montalcino Caprili, Barolo Ornato. Barolo Livio Pavese (Itália).
Pai moderno:  Aposte nos vinhos do sul da Itália, tais como Etna. Primitivo de Manduria, Ciró,  Salice Salentino,  Brindisi, entre outros caldos deliciosos;  Os DOC’s espanhóis  Cariñena, Ribera Del Duero, Valência, La mancha, Priorat,  Navarra,  entre outros. Os varietais agradam muito esse tipo de pai. Aposte nas castas Shiraz, Carmenere, Tempranilllo e  Garnacha;  SUGESTÕES: Castillo de Ducay, Cintruenos, Marques de Tomares Excellence (Espanha); El Sueño Reserva Carmenere(Chile) , Hope Estate The Hipper Shiraz (Austrália);
Pai  esportista: Com certeza uma apreciador de brancos, espumantes e tintos mais leves. Opte por vinhos da Austrália, Africa do Sul, Nova ZeLândia, Alemanha e varietais como Pinot Noir, Grenache, Zinfandel, Sauvignon Blanc e  Riesling. SUGESTÕES:  Anselman Riesling Troken , Anselman Dolfender(Alemanha); Specialties Wild Spirit Mourvèdre (Chile); Wente Zinfandel (EUA)
Pai de bem com a vida: Gosta de vinnhos que exaltem a alegria. Fã de espumantes, pode apostar sem medo nos delicosos e refrescantes espumantes brasileiros, mousseaux (França) e Cavas (Espanha) Em varietais aposte nos Sangiovese, Barbera, Bonarda e vinhos que tenha sido vinificados pelo processo de maceração carbônica. SUGESTÕES:  Volandera (Espanha);  Goulart Clássico Bonarda (Argentina); Cave Geisse Terroir e Valmarino Churchil (Brasil); Fleur du Cap Pinotage e The Chocolate Block (Africa do Sul).
Pai zen: apreciados de vinhos orgânicos e biodinâmicos, aposta sem erro nos vinhos naturais e oriundos vinícolas pequenas .  esse tipo de pai vai adora ouvir sobre como a vinha foi plantada, em que lua foi efetuada a colheita, quantas garrafas  foram elaboradas , enfim,  esse pai vai curtir a  parte poética do vinho. SUGESTÕES:  Calabria Saint Macaire (Austrália);  Micina Nerello Mascalese, Masi Grandarella (Itália);  Coyam (Chile);  Tierga (Espanha) Vilmar Bettú Nebbiolo e  Minimus Anima  (Brasil)

Bom mesmo vai ser presentear e o papai abrir o vinho para brindarem juntos a essa data especial!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ENTREVISTA COM MARCELO PAPA

Tomei a liberdade de compartilhar a entrevista de Marcelo Papa para a Revista Adega por ter achado sensacional o pensamento desse jovem, ousado e extremamente talentoso enólogo de uma das maiores vinícolas do Chile!
Marcelo tem postura, coragem e elegância ao ousar e testar novas formas de elaborar vinhos, novos métodos, outros olhos sob a tradição. ele teve a coragem de ousar fazer vinhos de boutique em uma vinícola gigante como a Concha y Toro. E amigos, e ele está fazendo verdadeiras maravilhas! Maravilhas para poucos e raros, quem dera eu pudesse ser uma das felizes degustadoras de suas jóias engarrafadas!



Muitas vezes os connoisseurs colocam o raro, e até mesmo o estranho, à frente da qualidade. Com isso homens (e mulheres) que trazem a arte ao alcance de muitos não são reconhecidos como merecem. São gênios que carregam nos ombros a responsabilidade de encantar milhões, satisfazê-los, educá-los e levá-los adiante na compreensão de um novo mundo.
Com o vinho, não é diferente – já que tantos “especialistas” demonstram preconceito com os vinhos que alcançam legiões de consumidores, numa falta de compreensão do papel dos que cativam milhões de enófilos mundo afora.
Um dos responsáveis por vinhos dessa natureza é Marcelo Papa, o enólogo por trás do colossal Casillero del Diablo, e também de tops Marqués de Casa Concha e Quebrada Seca. Além disso, ele é provavelmente o enólogo que mais impulsionou o Chardonnay de altíssima qualidade em Limarí.
Com a desculpa de degustar o novo Marqués de Casa Concha Edición Limitada 2010 – eleito o melhor Cabernet Sauvignon do Chile na atual edição do Guia Descorchados –, ADEGA aproveitou para conversar com Marcelo Papa. Mesmo quando a missão profissional acabou, o assunto do jantar continuou sendo o vinho, e o enólogo se revelou um especialista apaixonado com o desprendimento de elogiar outros produtores e seus vinhos, numa raríssima combinação de conhecimento, humildade e autoconfiança.
Como surgiu esta edição limitada de Marqués de Casa Concha?
Marqués é uma linha super clássica, Cabernet e Chardonnay. Há quatro ou cinco anos, estava conversando com Patricio Tapia e ele disse que seria interessante provar um Cabernet de Tucunan, do vinhedo de Don Melchor, mas colhido como se fazia antes. Eu também gostaria de ver como ficaria. Na pior das hipóteses, sai alguma coisa péssima, mas num volume tão pequeno que posso utilizar num corte de grande volume [risos]. Bem, estava decidido.
E “como se fazia antes”?
Atirei-me ao projeto e fiz a colheita muito antes do que o normal. Um mês, quase cinco semanas antes do usual. Vinificamos cerca de sete ou oito barricas e fomos vendo que o vinho estava se transformando em algo muito interessante.
E como foi fazendo isso?
Trabalhamos bastante com Alberto Antonini e, quando ele vem degustar – usualmente no meio do ano –, degustamos todos os lotes de vinho e os selecionamos para incorporá-los aos cortes. Eu coloquei o lote na degustação com Alberto sem dizer que fora colhido antes ou qualquer outra coisa. Eu sempre o degustava e achava muito bom, mas temia estar influenciado pela experiência. Com Alberto, sempre vamos degustando e classificamos os vinhos como A, B ou C – sendo A para melhor qualidade, B para qualidade aceitável e C, descartável. A colheita 2010 foi uma safra muito boa e começaram a sair muitos A. Dentre eles estava nossa experiência. A impressão geral foi que era um lote interessante e diferenciado, e assim começamos a pensar em fazer algo a parte.
Uvas Cabernet Sauvignon usadas para o premiado Marqués de Casa Concha vieram do vinhedo de Don Melchor, um dos principais ícones da Concha y Toro, em Puente Alto
Uvas Cabernet Sauvignon usadas para o premiado Marqués de Casa Concha vieram do vinhedo de Don Melchor, um dos principais ícones da Concha y Toro, em Puente Alto
"Há boas uvas que estão abandonadas e é quase uma responsabilidade encontrar um caminho de preservação desse patrimônio. Hoje esse potencial está sendo desperdiçado"
Foi um processo fácil?
Em Concha y Toro, não é tão fácil lançar projetos novos, sobretudo em uma escala tão pequena. Então conversei com Isabel (Guilisasti – diretora de marketing da empresa) e ela concordou que tínhamos que engarrafá-lo. Minha ideia era fazê-lo numa garrafa de Borgonha, como se fazia nos anos 1970, mas começou a surgir uma questão sobre o lote pequeno de garrafas e outros temas. Além disso, era um 2010 que geralmente envaso um ano e meio após a colheita e este já levava três anos sem engarrafar. Deixamos muito mais tempo em barrica, pois o vinho tinha muita força.
Assim nasceu a decisão de colocar na garrafa de Marqués? Em Concha y Toro acharia que tinham feito uma pesquisa de mercado global [risos]...
Como havia um caminhão vindo envasar o vinho em Puente Alto, disse que tinha mais 2.000 litros para envasar de uma sobra de 2010, e envasei naquela data. Depois de engarrafado, comecei a receber mensagens do tipo: “Você já envasou aquele lote 2010? Envie-nos as garrafas para o centro logístico de Pirque”.
Processos em uma empresa grande...
Este centro é tão grande quanto o aeroporto de Guarulhos e se eu mandasse, as garrafas estariam perdidas para sempre [risos]. Então, pensei: “Vou deixar por aqui” e guardei as 1.800 garrafas por um ano na sala de barricas. Tudo registrado, mas simplesmente não queria me afastar das garrafas. Frequentemente, recebia uma chamada: “Marcelo, no inventário constam 1.800 garrafas da safra 2010, estamos vendendo 2011, então me mande as garrafas para despachá-las”. Eu tentava acalmar as pessoas e dizia para ficarem tranquilas que estava vendo isso. E mais chamadas vinham solicitando as garrafas. Fui manejando com Isabel e ninguém tinha ideia do que estávamos fazendo, nem mesmo Eduardo (Guilisasti – CEO da Concha y Toro). E o vinho se saiu tão bem na avaliação do Descorchados (o melhor Cabernet Sauvignon do Chile) que até levou Eduardo a nos permitir fazer projetos de pequeno volume dentro de Marqués.
Este Marqués é uma grande mudança de estilo e mentalidade. Há outro Cabernet de edição limitada vindo aí?
É mesmo uma mudança. Agora tenho também um Cabernet colhido cedo, de 2013, e outro vindo de Alto de Pirque guardado em foudre do tipo italiano de Barolo, apenas um foudre, um lote de 300 caixas e tchau.
É muito mais fácil fazer lotes pequenos?
Sim. A ideia foi fazer lotes pequenos que não compliquem a área comercial. O que diferencia o vinho em seu rótulo é permanecer Marqués de Casa Concha e com a etiqueta escrita à mão.
O que determina os projetos?
Serem sempre inovadores e com algo interessante. Neste ano, fiz novamente Cabernet colhido mais cedo e também uma variedade Blanca Italia, que é como um Moscatel, da zona de Itata, do mesmo vinhedo que Marcelo Retamal usa para fazer o Viejas Tinajas, mas com outro estilo. Também estou produzindo dois vinhos distintos de País, com maceração carbônica e com estilo bastante frutado e ligeiro.
Como se comparam com o País de Concha y Toro?
São bem diferentes. São mais no estilo do belo País da Torres, um vinho fresco e delicado. Um de Cauquenes e um da zona de Itata, ambos os vinhedos com 150 anos. Também vou fazer um Cinsault com maceração carbônica. Destes quatro, vai sair algo. Não creio que saiam os quatro, mas estou bem interessado que saia o País e gostaria que saísse o Blanca Italia.
Por que País?
País é uma variedade muito antiga e historicamente foi dedicada a fazer “um tinto”, pois o Chile sempre vendeu vinhos tintos. Assim tentavam produzi-lo como um Cabernet e ficava ruim, pois é muito tânico e ficava muito áspero. Temos que encontrar um bom caminho para estes vinhedos tão antigos. Há muita uva em vinhedos muito velhos e numa zona, em geral, muito bonita. Temos que fazer algo como Miguel Torres fez com Estelado. Ele encontrou uma linha, uma fruta, leve como um Beaujolais. Há boas uvas que estão abandonadas e é quase uma responsabilidade encontrar um caminho de preservação desse patrimônio. Hoje esse potencial está sendo desperdiçado agregando uvas de vinhedos centenários em cortes dos tintos mais básicos imagináveis, completamente desvalorizados.
"O mundo passou por muitos vinhos super extraídos, que são como uma pessoa que está vestindo camadas e camadas de roupa e, mesmo sendo magra, parece gorda"
País seria a verdadeira variedade autóctone do Chile?
Foi, de fato, a primeira variedade, que veio da Espanha, assim como a Crioula na Argentina e a Mission na Califórnia. Mas são variedades distintas, pois nem todas vieram do mesmo lugar da Espanha. Particularmente, a do Chile é muito especial e temos que encontrar o caminho de fazer um vinho muito agradável e especial. Eu achei o de Miguel Torres muito especial.
Falando de novos caminhos, você foi um dos primeiros enólogos chilenos a ir para os Estados Unidos, no início dos anos 1990. Como sua experiência lá influenciou sua visão sobre os vinhos?
Por razões históricas, o Chile tem uma cultura de tintos e brancos de Bordeaux. A indústria do Chile foi formada há 150 anos por indivíduos que fizeram fortuna na mineração e decidiram produzir vinhos de boa qualidade. Eles tomaram Bordeaux como parâmetro e, assim, desenvolveram-se Cabernet Sauvignon, Merlot, um pouco de Cabernet Franc e também Sauvignon Blanc e Sémillon. Nos brancos, seguimos em torno do Sauvignon Blanc e, em todos os anos que trabalhei como enólogo em Kendall Jackson, praticamente não fiz Sauvignon Blanc. Todo o meu esforço foi concentrado em Chardonnay, então, nesse sentido, tenho a felicidade de ter um parâmetro de Chardonnay muito claro.
"Não sei se as pontuações são tão importantes quanto no passado. Hoje, elas funcionam como guias e não como uma ditadura, como era com Parker"
E como mudou o Chardonnay daquela época para hoje? Os grandes Chardonnay americanos atuais não são mais tão amadeirados
No início, os Chardonnay dos Estados Unidos eram puramente comerciais. Obviamente, trabalhando com Kendall Jackson, 80% era comercial, mas quando se metia no Russian River, com La Crema e todo o resto, estávamos trabalhando para elevar muito a qualidade. Tínhamos muitas degustações com Chardonnay da Borgonha para comparar e nos puxarmos para um nível de qualidade mais alto. Aí, aprendi muito e pude aplicar no Chile. Assim, em 1996, iniciamos a vinificação de Chardonnay de Limarí.
Em Quebrada Seca, você está fazendo Chardonnay capazes de evoluir por anos...
De fato, o Chardonnay de Quebrada Seca, degustado após sete anos, continua evoluindo muito bem.
E qual é o segredo?
A técnica é muito simples: menos é mais. No fundo, o Sauvignon Blanc no Chile segue muito a escola neozelandesa para garantir grande quantidade de aroma. E o mesmo era aplicado no Chardonnay, vinificavam redutivo e com macerações. E este não é o caminho do Chardonnay, pois colhe-se à mão, envia à prensa e a faz trabalhar o mínimo possível. Hoje em dia, este conhecimento está um pouco mais decantado e há enólogos como Felipe Müller, Marcelo Retamal e outros que estão fazendo Chardonnay como se deve fazer.
Mas não se trata de uma nova padronização, certo?
Tem uma questão de estilo. Você pode gostar mais de Quebrada Seca, que é como um Meursault, Puligny, ou mais de Talinay, que é mais como um Chablis, mas não pode-se dizer que este ou aquele seja melhor. São estilos diferentes. Em um, tem argila com calcário e, em outro, tem menos argila, como o caso de Talinay.
Pode explicar isso?
A argila tem um papel importante na estrutura do Chardonnay. Em Casablanca, por exemplo, você tem dificuldade de encontrar argila. Lá, o calcário está associado ao granito e o granito não é amigo do Chardonnay. A argila, por sua vez, é amiga do Chardonnay, mas não do Sauvignon Blanc, que necessita de outro tipo de solo. Na parte costeira, Leyda e Casablanca, quando há argila, sempre está nas encostas das montanhas, e nelas sempre há também granito. A argila com granito é uma boa alternativa para o Chardonnay, mas não é perfeita. Em Limarí, está tudo na medida.
Como é o solo em Limarí?
Em Quebrada Seca, há 30 centímetros de argila roxa (há 30 ou 35%) e abaixo é puro calcário. Em Talinay, nesta camada superior, há mais areia junto a 15% de argila, e assim o efeito do calcário é maior, pois a raiz vai mais fundo. Assim, estes vinhos são menos amplos e estruturados do que Quebrada Seca, mas mais longos e minerais. Limarí apresenta o mesmo para o Pinot Noir.
Você é um estudioso do terroir, como vê o efeito disso nos vinhos?
O mundo passou por muitos vinhos super extraídos, que são como uma pessoa que está vestindo camadas e camadas de roupa e, mesmo sendo magra, parece gorda. Estamos aplicando a estratégia de que menos é mais, inclusive em variedades como Syrah de Limarí e Maipo, vinificando-os em tanques abertos como Pinot Noir. Sem moer e com 10 a 15% de ramos inteiros para ter menos extração e uma linda fruta que permite ver de fato o que está por trás.
A madeira em foudres serve mais como um recipiente?
Por muito tempo trabalhamos com barricas, e elas, no fim das contas, colocam no vinho tinto grafite, mocha e tostado, que são como a roupa que esconde a verdadeira silhueta. Temos foudres de 5.000 litros em Peumo e Puente Alto, madeira sem tostar para a guarda.
De que maneira seu gosto como consumidor afeta sua visão sobre o vinho?
Os vinhos que hoje me encantam e desafiam, muitos consumidores não gostariam de tomar. Hoje estou metido no Piemonte e na Borgonha.
Você tem um grande poder de ditar estilos, pois, além de milhões de consumidores dos seus vinhos, há pessoas atentas que veem e seguem o que vocês estão fazendo...
Temos que lembrar que, nos últimos 20 anos, o mercado esteve dominado pelas pontuações que valorizavam a super extração e o alto álcool – no estilo Michel Roland –, mas isso, nos últimos anos, mudou muito, o que nos permite ir mudando e influenciando. Temos uma legião de consumidores que começa com vinhos com fruta bastante madura e também madeira. Estes são os vinhos de que eles gostam. Com Casillero, por exemplo, vamos fazendo mudanças paulatinas, apresentando vinhos mais frescos, com menos álcool, menos dulçor e que vão sendo desfrutados mais e mais.
E com Marqués e Quebrada Seca?
Estes vinhos nos permitem ir abrindo um caminho distinto, e dá para jogar mais com o conhecimento do consumidor. Também não sei se as pontuações são tão importantes quanto no passado. Hoje, elas funcionam como guias e não como uma ditadura, como era com Parker. Mas, acima de tudo, o importante é apresentarmos sempre vinhos de grande qualidade em cada estilo e ir ajudando o consumidor a manter seu prazer de tomar vinho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

NOVA I.P. DE FARROUPILHA! Em breve!

Essa notícia vem em excelente momento já que a uva Moscato Branco cultivada em Farroupilha foi confirmada como variedade unica e singular pelo ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot, da Universidade SupAgro, de Montpellier (França), mundialmente conhecido por ter redescoberto no Chile a variedade Carmenère.
As características dos moscatéis elaborados em Farroupilha ha anos se destacam dos demais elaborados no Brasil. A confirmação da hipótese certamente ampliará o interesse pelos vinhos moscatéis elaborados em Farroupilha, fortalecendo os conceitos de tipicidade e qualidade associados a essa origem, que são os elementos de base no processo de desenvolvimento da IP.
A hipótese da originalidade surgiu a partir da observação antiga de que a Moscato Branco cultivada em terras brasileiras se distinguia das uvas moscatéis cultivadas na Europa. Os primeiros resultados indicam que a suspeita é verdadeira, e que a variedade seja realmente exclusiva. A experiência de Boursiquot, conjugada ao trabalho dos pesquisadores da Embrapa, tornou possível a comparação, sem encontrar um par idêntico, entre amostras da Moscato Branco cultivada no Brasil e de uvas Moscato existentes em amplas coleções dos bancos genéticos de uva brasileiro e francês. Os estudos seguem, buscando-se mapear a origem e estabelecer a paternidade dessa cultivar, com a expectativa de que, em breve, possa-se conhecer que tipo de uva, afinal, ela é.
A solicitação da Indicação de Procedência (IP) para os espumantes moscatéis produzidos na região da Farroupilha, no Rio Grande do Sul, foi feita pela Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin)  na Sede do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em Porto Alegre, no último dia 25 de julho. 
A solicitação formal da IP exigiu a entrega de um dossiê detalhado com a delimitação geográfica, a caracterização da vitivinicultura (vinhedos e vinícolas), os processos de produção, as características de qualidade química e sensorial dos vinhos e o reconhecimento histórico da região como produtora de vinhos moscatéis. Além disso, o documento conta com Regulamento de Uso da IP, estabelecendo os processos de produção exclusivos e obrigatórios, bem como o plano de controle e certificação dos vinhos qualificados.
Para o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e coordenador técnico do projeto, Jorge Tonietto, o grande diferencial desta Indicação é que a área delimitada corresponde à tradicional região produtora de uvas moscatéis da Serra Gaúcha, responsável por abranger a maior concentração dessa variedade no país. “A conquista da Indicação pela Afavin irá possibilitar que centenas de produtores e dezenas de vinícolas estabelecidos dentro da região delimitada possam elaborar moscatéis espumantes, frisantes e vinhos tranquilos, que expressam a originalidade do terroir desta região”, destaca.
Para que os produtores da região recebam a certificação, precisarão passar por criteriosos processos de produção e de elaboração dos vinhos segundo o estabelecido no Regulamento de Uso desenvolvido especialmente para os vinhos da IP Farroupilha. Para o presidente do conselho técnico da Afavin, João Carlos Taffarel, a solicitação marca o fim de um importante processo. “Com a entrega da documentação desse projeto tão focado, temos a iminência do reconhecimento oficial como indicação de procedência”, salienta.
As atividades em busca da certificação começaram em 2005, com a criação da Afavin. Na sequência, diversas ações foram desenvolvidas, mas a iniciativa ganhou força no ano de 2009 com a aprovação do projeto de Desenvolvimento da Indicação Geográfica, sob a coordenação da Embrapa Uva e Vinho.
Assim que a IP Farroupilha for aprovado pelo INPI, o Brasil terá cinco Indicações Geográficas de Vinhos Finos: IP Vale dos Vinhedos (2002) – DO em 2012, IP Pinto Bandeira (2010), IP Altos Montes (2012), IP Monte Belo (2013). Todas receberam a orientação e o acompanhamento da Embrapa Uva e Vinho.
FONTE: Revista Adega e Site Rural BR

segunda-feira, 23 de junho de 2014

EXÓTICAS ITALIANAS

Matéria publicada por mim nas revista BEM MAIS nas edições 33 e 34

Exóticas italianas – Parte I
Conheça as mais raras uvas responsáveis pelos mais deliciosos sabores

Não escondo minha predileção para o diferente, o exótico, o pouco conhecido. Esse meu “lado B” encontrou respaldo perfeito na degustação de vinhos de castas raras.
Este mês abordaremos castas raras, mas que fazem vinhos de grande identidade e exótico sabor.
O primeiro país é a Itália, pois é de lá que vem meus vinhos preferidos!

REFOSCO DAL PERDUNCULO ROSSO
Uva tinta de maturação tardia cultivada principalmente no Friuli. O nome dessa uva se dá pelas suas gravinhas vermelhas. O vinho feito dessa uva tem coloração intensa, sabor encorpardo e excelentes níveis de acidez. Seus sabores tendem as ameixas e amêndoas.

TEROLDEGO
Uva tinta da região do Trentino. Seus vinhos apresentam características muito interessantes, produzindo desde vinhos jovens e agradáveis, até caldos que podem envelhecer por décadas. Quando feitos para guardar, sempre mantêm seu caráter frutado com ameixas e amoras, seguidos de toques defumados. Seus aromas são comumente carregados de notas terrosas e levemente herbáceos.

LAGREIN
Outra uva tinta da região do Trentino. Acreditá-se que seu nome deriva de Lagara, uma das colônias da Magna Grécia conhecida pela grande qualidade dos vinhedos. Já no século 14 os vinhos elaborados com essa uva eram considerados os melhores do país. A Lagrein dá aos vinhos coloração intensa, com reflexos granada, aromas de frutas vermelhas do bosque e toques herbáceos, paladar intenso com taninos aveludados e longa persistência.

No Brasil temos um excelente produtor que está resgatando as uvas da região do Trento: A Vinícola Barcarola, situada no Vale dos Vinhedos faz excelentes vinhos varietais das castas Teroldego e Lagrein.

AGLIANICO
Uva tinta do Sul da Itália, mais uma das saborosas uvas que florescem no solo vulcânico da região. Essa casta é talvez a maior vedete dentre as cepas tintas do sul da Itália, pois é encontrada na Campania, Basilicata, Calábria e Apulia. Nas duas primeiras regiões, gera desde vinhos simples até poesias engarrafadas. Seus fermentados mais conhecidos são: o Aglianico del Vulture e o famosíssimo Taurasi (da Campania). São vinhos muito intensos, concentrados e firmes, com muita personalidade e força.

NERELLO MASCALESE
Essa casta é uma de minhas preferidas. Tinta autoctone da Sicília, robusta e com grande potencial alcoólico que cresce aos pés do vulcão Etna, que também dá nome a um vinho D.O. com grande parte da Nerello Mascalese em sua composição. São vinhos elegantes, com muito álcool, corpo médio e aromas frutados. Vinhos fáceis de beber, aveludados e ao mesmo tempo misteriosos.

Apesar de ser uma uva com bom potencial de álcool, ela não produz vinhos muito profundos e concentrados. É, muitas vezes, mesclada com a mais intensa Nero d'Avola e também com sua irmã, a Nerello Capuccio.

SAGRANTINO
Uva tinta da região Úmbria, onde é considerado o mais importante vinhedo da região. Dá vinhos de coloração intensa, quase negros, com reflexos violáceos, apresentam impressionantes taninos e personalidade forte. Os umbros costumam se orgulhar e dizem de boca cheia que a casta Sagrantino é a que mais polifenóis contém, mas o que não se discute é que são vinhos opulentos, intensos e de grande corpo.

Em uma próxima edição falaremos um pouco mais dessas ilustres, raras e saborosas desconhecidas.

PARTE II

Dando sequencia ao artigo da edição anterior vamos falar de mais algumas saborosas e exóticas castas:

GAGLIOPPO: uva tinta cultivada no sul da Itália, principalmente na região da Calabria. A casta produz um vinho encorpado, rico em álcool e taninos que necessitam de um tempo na garrafa para amadurecer. Dá origem a outro de meu vinhos preferidos, o Ciró.

Um estudo italiano publicado em 2008 pela tipagem de DNA, mostrou uma estreita relação genética entre a Sangiovese de um lado e outras dez variedades de uvas italianas, por outro lado. Portanto, é provável que Gaglioppo seja um cruzamento de Sangiovese e outra uva, até agora não identificada.

DOLCETTO: Casta tinta cultivada no Piemonte, dá origem a vinhos de cor vermelha com reflexos violetas e aromas intensos com notas de cereja e frutas vermelhas, às vezes é ligeiramente amendoado.

Apesar do nome evocar doçura o vinho elaborado com essa casta possui pouca acidez e retro-gosto um pouco amargo e geralmente apresenta teor alcoólico baixo e deve ser consumido jovem.

O Dolcetto é um vinho tinto leve e agradável, com custo baixo em comparação a outros vinhos italianos. Agrada a maioria dos paladares e acompanha bem uma grande gama de pratos. É um verdadeiro coringa!

CANONNAU: Casta tinta cultivada sobretudo na região da Sardegna. Dá origem a vinhos de coloração vermelho rubi, mais ou menos intensa, tendendo ao laranja com o envelhecimento. Possui agradável aroma com notas de uvas e frutas vermelhas e sabor seco, aveludado e harmonioso.

Grande parte da bibliografia sobre sua origem, fala da hipótese dela ser proveniente da Espanha, da Uva Granache, mas recentes descobertas na ilha de Sardegna podem colocar por terra esta teoria.

Em Sardara, ao Norte de Cagliari, na Sardegna, um grupo formado por arqueólogos holandeses e italianos encontrou várias sementes de videiras datadas de 1.200 a.C. entre elas, estava a da Uva Cannonau.

Análises produzidas em laboratórios espanhóis, mesmo antes desta descoberta, já indicavam que a Uva sarda Cannonau, tida como importada da Espanha na Idade Média, é na verdade uma variedade autóctone da Sardegna.

Uma das particularidades dos vinhos produzidos na Sardenha é o fato de que boa parte dos vinhedos sobreviveu a terrível praga do filoxera (parasita originário da América), que praticamente dizimou os vinhedos europeus entre o final do século XIX e início do século XX. Por isso, muitas das parreiras da região são de pé franco. Os sardos são bastante orgulhosos de suas parreiras ‘puro sangue’.

MARZEMINO: Casta tinta da região de Vallagarina, distrito do Trentino. Dá origem a vinhos de cor vermelho rubi escura, quase roxa, com reflexos granada e azul. Seu aroma é suave, com notas de pequenos frutos silvestres, flores aromáticas, em especial violeta, toque de especiarias e menta. Possui teor alcoólico baixo e deve ser tomado jovem em até quatro anos da safra.

O Marzemino também é conhecido como vinho de Mozart, por ser citado na sua obra “Don Giovanni”.

Existem tantas variedades exóticas na Itália que bem poderíamos escrever um livro sobre isso!